Ciência busca aprender com a natureza para criar soluções mais inteligentes, eficientes e sustentáveis
![]() |
| Divulgação |
Tecido inspirado nas folhas de plantas, drones que imitam o voo de pássaros e insetos, revestimentos baseados na textura da pele de tubarão, fibras sintéticas que reproduzem a resistência das teias de aranha e edifícios projetados a partir da engenharia natural dos ninhos de cupins. Em um mundo marcado por crises climáticas, tensões geopolíticas e desafios sociais, cresce o movimento de voltar-se à natureza em busca de soluções sustentáveis. É a chamada biomimética - ciência que se inspira em sistemas e processos naturais para resolver problemas humanos, reunindo eficiência, inovação e sustentabilidade. Trata-se de um setor em plena expansão: segundo o Market Research Intellect, o mercado global de biomimética foi avaliado em US$4,5 bilhões e deve atingir US$12,8 bilhões até 2033.
“O conceito de pegada de carbono ganha protagonismo - ele representa a quantidade de gases de efeito estufa emitidos por nossas ações, desde o transporte até o uso de tecnologias digitais. E é justamente nesse ponto que o design, a ciência e a natureza se encontram para propor caminhos inovadores”, explica Roberta Ferrari de Sá, desenhista industrial, doutora em Engenharia de Produção e professora da Graduação Digital 4D em UX Design da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Ao observar organismos como o bolor-do-limo e a estrutura óssea dos mamíferos, pesquisadores têm desenvolvido algoritmos e materiais que replicam a inteligência da natureza. Esses modelos biológicos inspiram algoritmos que simulam comportamentos adaptativos e resilientes, aplicados ao design de produtos, engenharia e impressão 3D. “Um exemplo notável são os sistemas de design generativo inspirados nesses organismos para criar estruturas otimizadas, leves e resistentes. Ao unir biomimética, inteligência artificial e design sustentável, eles exemplificam como a natureza pode ser uma mentora poderosa na criação de tecnologias mais conscientes e eficientes”, diz Roberta.
Mas a inovação não se limita ao mundo físico. No universo digital, o conceito de UX design sustentável surgiu da necessidade de alinhar a experiência do usuário com práticas ambientalmente responsáveis, emergindo como uma abordagem que vai além da usabilidade - ele considera o impacto ambiental das interfaces, desde o consumo de energia até o estímulo a comportamentos conscientes. Interfaces que promovem o uso racional de recursos, sistemas otimizados para reduzir dados e energia e escolhas tecnológicas com menor pegada ecológica, são exemplos de como o design pode ser um agente de transformação. “Ao conectar biomimética e UX design sustentável, criamos um ecossistema de inovação que respeita os limites do planeta e potencializa a experiência humana. O design deixa de ser apenas funcional ou estético para se tornar ético, ecológico e evolutivo”, afirma a professora.
Mercado de trabalho
O avanço da biomimética tem ampliado a demanda por profissionais de UX (User Experience, ou Experiência do Usuário). Para atuar nesse campo, é necessário combinar conhecimentos de biologia, engenharia, design e sustentabilidade, o que exige formação diversificada e atualização contínua. As aplicações da biomimética se estendem por múltiplos setores, incluindo arquitetura e construção, design de produtos, engenharia, indústria, saúde, biotecnologia, medicina, consultoria corporativa, além de pesquisa e ensino. “Em tempos de incerteza, olhar para a natureza como mentora e para o design como mediador é mais do que uma tendência, é uma necessidade. A inovação sustentável não é apenas possível. Ela já está acontecendo”, destaca a professora do curso de UX Design da PUCPR.
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário